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Filarmónica Recreativa Cortense

Filarmónica Recreativa Cortense

Cortes do Meio, Concelho da Covilhã, Distrito de Castelo Branco

A irresistível ascensão das mulheres à frente das orquestras

Mirga Grazinyte-Tila começa funções na City of Birmingham Symphony Orchestra em setembro

Uma das principais orquestras inglesas nomeou titular uma lituana de 29 anos, Mirga Grazinyte-Tyla.

A pouco e pouco, elas aproximam-se do topo ocupando lugares de destaque.

Um crítico do Los Angeles Times decretara no ano passado que a "Mirga-mania" podia oficialmente começar e os observadores do meio já se referem a um efeito-Mirga. Mas o que é ou quem é "Mirga", perguntar-se-ão? Mirga é o nome próprio de uma maestrina lituana. O seu nome completo é Mirga Grazinyte-Tyla, mas por razões compreensíveis, depressa se está a tornar só Mirga.

E o sururu à sua volta prende-se com facto de ter sido recentemente nomeada como a próxima titular da City of Birmingham Symphony Orchestra (CBSO), com um contrato inicial por três anos. A nomeação de uma mulher como titular de uma orquestra de primeira linha tem ainda o seu quê de raro. Agora, o que é mais inédito no caso de Mirga é que ela o consegue aos 29 anos. A combinação de país "exótico"+mulher+idade+notoriedade da orquestra é que produz com Mirga um cocktail surpreendente.

E é curioso que seja a Orquestra de Birmingham a fazer esta escolha: eles apostaram em Simon Rattle quando este tinha apenas 25 anos e, em 2007, nomearam um "vizinho de cima" de Mirga, o letão Andris Nelsons, que na altura tinha 28 anos - hoje, Nelsons é titular da Sinfónica de Boston, cargo a que juntará a chefia da Orquestra do Gewandhaus de Leipzig.

Até agora, Mirga só dirigira a CBSO por duas vezes antes da nomeação! Portanto, o risco assumido continua lá, apenas sofreu um upgrade por agora ser uma mulher.

De Vilnius para o mundo

Natural de Vilnius, Mirga vem de uma família de músicos, conquanto os pais desejassem para ela uma profissão mais "terra-a-terra". Mas o desejo da filha vergou-os: estudou direção coral e foi ainda a pensar em dirigir coros que foi fazer estudos superiores para a Áustria (Graz). Um dia, um professor lançou-lhe: "E se estudasses direção de orquestra?..." Mirga pensava que isso não era para ela, mas percebeu que o desafio era uma via que se lhe abria defronte e que talvez valesse a pena trilhar - esse tipo de raciocínio tem-na guiado, aliás, ao longo dos anos e com resultados, vê-se, muito gratificantes!

 

"Uma mulher na Filarmónica de Berlim é questão de tempo"

Entrevista a Joana Carneiro que é titular da Sinfónica Portuguesa e Berkely Symphony.

Esta nomeação de Mirga para Birmingham significa que o céu é o limite para as maestrinas?

Penso que sim. Temos muita qualidade e será uma questão de tempo até vermos mulheres à frente da Filarmónica de Berlim ou de outras grandes orquestras do mundo.

Alguma vez ouviu ou sentiu resistências dos seus colegas homens face a mulheres a dirigir?

Sim, aconteceu várias vezes ouvir dizer que um certo tipo de repertório não se adequaria a ter mulheres a dirigi-lo, mas nunca com uma argumentação objetiva, o que prova que são apenas preconceitos que a realidade depois desmente. Noutro plano, sucedeu há uns dois anos, numa orquestra europeia, um instrumentista de sopro ter passado o ensaio ostensivamente virado de lado para mim. Foi uma situação difícil e constrangedora, até porque afeta à partida o processo de procura conjunta de beleza e unidade artística.

Há alguma associação de maestrinas?

Por acaso, acho que não. Fui em 2000 ao 1.º Encontro Internacional de Maestrinas, em Bruxelas. Eu tinha então 23 anos e nunca sentira qualquer problema, de modo que foi revelador ouvir relatos duros de colegas, a quem foram sonegadas oportunidades pelo facto de serem mulheres.

Quem elegeria como ícone das maestrinas?

Talvez a Marin Alsop. É de uma geração mais velha e foi a primeira mulher a quebrar muitas barreiras. Podemos imaginar o quanto teve de lutar e ser persistente... É um exemplo e continua a ajudar maestrinas e compositoras a triunfar.

Já chegaram junto de si muitas aspirantes a maestrina?

Sim, muitas vezes vêm ter comigo a seguir a concertos, ou então mandam-me e-mails ou cartas, falando desse sonho. Tenho noção da minha responsabilidade e do que represento, pela vida e profissão que tenho, precisamente por ser mulher.

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