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Filarmónica Recreativa Cortense

Filarmónica Recreativa Cortense

Cortes do Meio, Concelho da Covilhã, Distrito de Castelo Branco

A sombra de David Bowie no regresso do novo JP Simões

O músico adota novo alter ego, Bloom, e apresenta-se renovado com o álbum "Tremble Like a Flower". O tema que abre o disco foi composto após a morte de Bowie

A história de Bloom, Nicholas Bloom, envolve um encontro num bar algures no bairro de San Telmo, em Buenos Aires, um acordo "pessoano" entre JP Simões e o personagem: "Ele seria o meu heterónimo vivo, oferecendo-me o seu nome e a sua música. Eu seria a encarnação e a expressão de um músico e de uma obra musical até então escondidos do mundo."

Nas palavras de JP Simões, as fronteiras entre a realidade e a ficção, quando nos fala de Bloom, são ténues, mas admite: "Sempre gostei de criar narrativas para sustentar a existência de coisas que podem não existir. Até porque as bruxas existem nos contos de fadas e os contos de fadas existem no real tangível." JP Simões é agora Bloom e acaba de lançar o álbum Tremble Like a Flower.

"Nos últimos anos, a designação "JP Simões" tornou-se para mim sinónimo de música latino-americana cantada em português, já não falando da aura caricatural do personagem, entre o ébrio contestatário e o wertheriano dolente e autocomplacente da sua condição de miséria do universo", afirma o músico ao DN. "Não quero com isto reduzir o eventual mérito que possa existir no meu trabalho anterior: a crueldade da autodescrição sempre me foi natural e ajudou-me a não ter megalomanias pífias. À medida que me fui afastando do personagem e da sua forma de produzir música e sentido, outra música e outros sentidos foram aparecendo no meu trabalho e, concomitantemente, na minha maneira de viver. Abraçando outra fé, submeti-me a um novo batismo, poderia dizer."

Ouvem-se, de facto, novos sentidos na música de JP Simões, ou melhor, de Bloom, que na gravação do disco teve ao seu lado Miguel Nicolau (Memória de Peixe) e Marco Franco. Os arranjos das canções estão mais barrocos, os jogos com tonalidades próprias do jazz e da folk são determinantes e as próprias histórias cantadas denotam mudanças.

"Canto sobre amigos e amores na vertigem do tempo que passa e leva tudo e exponho-me de uma forma muito menos autoirónica do que habitualmente", refere o músico, que destaca como "a tese" que atravessa todo o disco a de que "a assunção sincera da nossa fragilidade, a noção do quanto estamos nas mãos da música do acaso, é o princípio de uma nova força de viver, mais em paz com a natureza e com mais respeito pelos nossos esforçados planos e decisões, sonhos e ilusões".

O disco abre com a canção que lhe dá título, Tremble Like a Flower, que é também uma referência a David Bowie e ao seu Let"s Dance. "Tremble Like a Flower foi o último tema feito para este disco, logo a seguir à morte de Bowie", conta. Apesar da referência a esse tema icónico, foi uma outra canção do músico britânico que motivou JP Simões a compor Tremble Like a Flower.

"A ideia da canção, no entanto, partiu do tema Starman: o que poderiam dois pré-adolescentes que deram pela presença do homem das estrelas estar a cantar agora, 40 anos depois dessa aparição? Ao síndrome de Peter Pan, onde a ideia de ficar mais velho é negada pelo espírito jovem, junta-se o arrepio de envelhecer: apesar de estarmos embarcados numa interminável viagem cósmica onde o universo é apenas o começo, trememos como flores no chão frio do nosso ocaso pessoal."

A sombra de Bowie sente-se neste disco e a admiração de JP Simões pelo músico é notória: "Bowie era uma espécie de Bíblia em carne e osso que pregava a liberdade de transformação pessoal e de transformação artística como uma só. É claro que exercer essa liberdade não é fácil e convém haver sempre algo de muito real na base de uma metamorfose artística, caso contrário o coração rejeita e a mente contraria."

Tal como Bowie na sua evolução artística foi adotando diferentes alter egos, também agora JP Simões decidiu recorrer a um outro nome para mostrar as mudanças que se deram. Mas esclarece: "Fiz uma música diferente do que alguma vez fiz, sou uma pessoa em evolução e adotei um nome artístico que me pareceu mais coerente com ambas as coisas."

Ainda assim, intitular este álbum como Tremble Like a Flower não deixa de ter um carácter de homenagem. "Bowie esteve sempre presente na minha música e na minha vida: não creio que haja mais sentida homenagem do que incluir alguém no melhor lado da nossa existência."

Se é verdade que ao longo do seu percurso JP Simões foi recorrendo, pontualmente, à língua inglesa, desta vez, sob o manto de Bloom, decidiu só cantar em inglês. Escolha que reforça esta mudança? O músico diz que a decisão foi meramente "intuitiva": "Achei que servia melhor a música que estava a produzir e que, sim, seria menos intrusiva e mais maleável, respeitando a respiração das paisagens e das narrativas do som."

Amanhã estas novas canções serão apresentadas no Lux, em Lisboa. Mas, apesar do novo nome que adotou, não coloca de parte as canções que assinou como JP Simões. "Gostava de existir artisticamente com o máximo de proximidade com a produção do presente. No entanto, havendo um contexto que o justifique artística ou afetuosamente, poderei revisitar temas antigos: com certeza que não será por dinheiro, dado que o meu particular sucesso comercial torna a questão irrelevante. Resumindo, o mote para os próximos tempos será ch-ch-ch-ch-changes!"

Bloom em concerto

Amanhã, dia 9 de fevereiro, às 22.30

LuxFrágil, em LisboaBilhetes: 12 euro