Nuno Crato deixa milhares de alunos sem ensino musical
Cortes drásticos no financiamento apanharam desprevenidas as famílias dos alunos de 97 conservatórios privados. Contando apenas 30% das escolas, ficam sem apoio 2519 estudantes.
A promessa de um ano mais tranquilo no ensino da Música - depois dos atrasos nos pagamentos em 2014 - transformou-se num pesadelo que apanhou desprevenidas escolas da área e as famílias de milhares de alunos, a poucas semanas do arranque do ano letivo. Em causa está uma redução drástica nos estudantes cofinanciados pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC) em 97 conservatórios privados. Medida que, em muitos casos, terá consequências até na organização das escolas públicas .
De acordo com um levantamento da Associação de Estabelecimentos do Ensino particular e Cooperativo (AEEP), em apenas 30% destes 97 estabelecimentos há uma redução de 2519 alunos apoiados face ao último ano letivo. Números que, extrapolados ao universo da rede, representariam um corte de quase 8400 lugares disponíveis.
A distribuição dos cortes não é equiparada entre todas as ofertas. A AEEP aponta para um corte de 97% nas iniciações, uma oferta extracurricular do 1.º ciclo, de 79% no básico supletivo, que também é oferecido como complemento dos currículos escolares tradicionais; e de 16% no ensino básico articulado.
É este último corte que mais problemas cria às escolas públicas, porque parte do currículo dos alunos do articulado era oferecida por esses conservatórios, substituindo disciplinas como Educação Musical e Educação Visual e Tecnológica. Na Secundária Josefa de Óbidos em Lisboa, "mais de 50 alunos" do quinto ano de escolaridade tinham passado os testes para iniciar o primeiro ano do ensino artístico na Fundação Musical dos Amigos da Criança (AMAC), contou Teresa Beatriz Abreu, diretora desta fundação. Mas ontem esta professora teve de se deslocar à secundária para explicar aos pais que, afinal, "com a verba do ministério, só entram cinco" estudantes. "Neste momento, a própria Josefa de Óbidos já está a fazer a redistribuição destes alunos por várias turmas, porque o que costumava acontecer, com tantos alunos, era ser criada uma turma da música".
In: DN