Bruno Borralhinho (Violoncelista Covilhanense) grava disco em Lisboa com a Orquestra Gulbenkian
O violoncelista Bruno Borralhinho está esta semana em Lisboa a gravar um álbum com a Orquestra Gulbenkian e pretende contribuir para a divulgação da música portuguesa do século XX no plano internacional.
Bruno Borralhinho, 32 anos, radicado na Alemanha desde 2000, decidiu gravar em Portugal duas obras para violoncelo e orquestra compostas por Luís de Freitas Branco e Luiz Costa - nunca antes gravadas, disse o músico - e duas composições de Fernando Lopes-Graça e Joly Braga Santos.
O álbum, que deverá sair entre este ano e no próximo com o selo da Naxos, surge no seguimento do projeto "Página Esquecida", que criou em 2009 com a gravação de um primeiro disco feito apenas de música portuguesa.
"A música portuguesa acaba por ser uma página esquecida naquele que é o grande livro da história da música mundial. Com repertório para violoncelo e orquestra, o objetivo é a divulgação da música portuguesa em Portugal também - que muitas vezes também é desconhecida - e sobretudo no estrangeiro".
Com mais de sessenta instrumentistas e vários discos editados, a Orquestra Gulbenkian "é uma das melhores orquestras em Portugal".
"Queria contar com os melhores" para gravar este disco, explicou Bruno Borralhinho, que foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian há mais de dez anos.
Sobre a escolha do repertório, o violoncelista explicou que "são as quatro muito diferentes; são também de períodos diferentes do século XX. Fazem a síntese daquilo que foi a composição, a criação musical em Portugal durante o século XX".
Bruno Borralhinho nasceu na Covilhã em 1982 e começou a estudar violoncelo aos 12 anos. Venceu alguns prémios de interpretação, nomeadamente o Prémio Jovens Músicos da RDP, e em 2000 mudou-se para a Alemanha, onde integra a Orquestra Filarmónica de Dresden e onde fundou o Ensemble Mediterrain.
Observando Portugal à distância, Bruno lamenta que a música portuguesa continue a ser ainda "uma coisa muito exótica no estrangeiro".
"É muito raro ouvir música portuguesa numa rádio clássica na Alemanha e mesmo nos programas das orquestras das temporadas é muito raro ver música portuguesa. (...) Quando falo de um compositor português as pessoas não conhecem ou já ouviram falar, mas não sabem bem que tipo de música será. É um fenómeno esquisito, mas que é preciso contrariar", disse.
Para o violoncelista, é uma questão estrutural, de se "apostar na difusão": "Trabalho numa orquestra alemã, fazemos muito repertório e há muitas obras que se tocam por aí que não são nem de perto nem de longe tão boas como por exemplo as que estamos a gravar hoje".
Emigrante e com família já criada na Alemanha, Bruno Borralhinho conhece outros músicos que também saíram de Portugal para prosseguir carreira. "Não é que seja mais fácil. Abre-se o mundo, mas o nível é muito alto, há mais concorrência. Seria bom que Portugal conseguisse criar maneiras de aproveitar o talento que está a produzir, porque está a investir na educação, e depois não há maneira de dar continuidade a esse talento".