Professor e artesão "salvam" viola amarantina
A viola amarantina esteve quase extinta, mas a missão concertada de um professor e de um artesão, ambos de Amarante, permitiu ensinar dezenas de jovens a tocarem o instrumento, assegurando um futuro, outrora incerto.
Há alguns anos que Eduardo Costa, docente no ensino básico, e António Silva, marceneiro, unem esforços, o primeiro tocando e ensinando o instrumento, o segundo fabricando violas amarantinas de forma artesanal.
O esforço de ambos, com a ajuda de alguns amigos, permitiu acabar com as nuvens negras que se abatiam sobre o futuro da viola, ao ponto de haver hoje em Amarante dezenas de executantes do instrumento que ostenta o nome do concelho.
A centenária viola amarantina, de origem medieval, é parecida com a viola braguesa, tocada na zona do Minho. Ambas são consideradas "violas de arame" e têm cinco cordas duplas, mas a variante de Amarante, menos conhecida do que a minhota, diferencia-se por ter uma escala mais comprida, até à boca, única no país, e ostenta dois corações, que se julga estarem ligados a uma história de amor envolvendo um trovador medieval.
Eduardo Costa é também um dos elementos do grupo "Propagode", de Amarante, que se dedica à música tradicional, em especial à divulgação da viola amarantina. É nesse âmbito que pessoas de várias idades aprendem, semanalmente, a executar o instrumento, com ajuda dos dois tocadores do grupo mais experientes.
Recentemente, o docente criou um clube de música na escola onde leciona, na qual 24 crianças e adolescentes aprendem a tocar a "Amarantina". Ao mesmo tempo, o grupo tem feito oficinas, em vários locais, nas quais divulga e ensina o instrumento, para além de realizar dezenas de espetáculos.
"Antes deste trabalho, a nossa viola estava praticamente esquecida", recordou à agência Lusa.
A recente dinâmica criada em torno do instrumento tradicional permite a Eduardo Costa concluir que "a Viola de Amarante nunca mais vai ser esquecida".
Mas todo aquele trabalho só se tornou possível depois de se encontrar alguém que construísse instrumentos suficientes e adaptados para as crianças e adultos darem os primeiros passos na música.
O marceneiro António Silva, que já tinha alguma experiência com cavaquinhos, foi então desafiado pelo "Propagode" para a construção de violas amarantinas.
Há cerca de três anos que, nas horas vagas, o artesão constrói com minúcia e paciência, numa oficina dos fundos da sua casa, dezenas de violas amarantinas. Cada uma leva 35 horas a fazer, e todas, garante, cumprem as exigências de qualidade, inclusive nos vários tipos de madeira utilizados.
Cada exemplar de qualidade média custa cerca de 300 euros, um valor que o artesão considerada pequeno face ao trabalho que dá. Apesar disso, disse à Lusa que executa "a arte" pelo amor que sente pelo instrumento da sua terra, que até já aprendeu a tocar, ajudado pelos amigos do "Propagode".
O sucesso da revitalização do instrumento teve recentemente um momento alto, quando cerca de duas dezenas de tocadores se juntaram numa feira em Amarante e fizeram uma arruada pelas ruas da cidade.
Os dois falaram à Lusa, emocionados, da "sonoridade apaixonante" do instrumento que hoje os amarantinos se orgulham de exibir em cada festa, em cada convívio, executando melodias tradicionais, na companhia de cavaquinhos e rabecas, ou trechos mais clássicos, só ao alcance dos tocadores mais dotados.