Fado é Património Imaterial da Humanidade
O dia 27 de Novembro de 2011 ficará para sempre marcado na história da cultura portuguesa. Palco de todo o entusiasmo em torno desta candidatura, o Museu do Fado reuniu neste dia os maiores artistas deste género musical e responsáveis políticos num ambiente de celebração com o público e paixão por uma canção que, segundo Mafalda Arnauth, “canta a vida das pessoas”. Começou cedo a noite de festa que prometia ter como ponto alto a condecoração do Fado como Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO. Findadas as actuações que contaram com a adesão massiva do público presente no museu, já entrados na madrugada de domingo, dia 27 de Novembro, o ponto de reunião passou a ser em torno do ecrã colocado na sala reservada a imprensa e artistas. O motivo era a transmissão em directo da cerimónia da UNESCO que já decorria nesta altura em Bali, Indonésia, e da qual se viria a conhecer o resultado da candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade. Tendo em conta as previsões iniciais que apontavam para que o resultado fosse divulgado no máximo até as 5:00 da manhã, a sala foi ficando repleta de ansiedade e nervosismo por parte de fadistas e jornalistas que aguardavam confiantes pela tão desejada notícia. Mas ainda que acarinhados de perto por algum público que se insistia em permanecer no museu, a impaciência e o sono começaram progressivamente a ganhar terreno. Carlos do Carmo, embaixador e porta-voz da candidatura, foi dos mais resistentes mantendo-se no local até pouco depois das 4:30. Antes de se ausentar em função da notícia de que o resultado da candidatura só seria dado a conhecer depois das 10:00, o fadista teve ainda tempo de confidenciar com o Hardmusica os pormenores de um projecto conduzido por “uma equipa muito pequena mas muito dedicada”. Sendo uma das principais figuras desta candidatura, Carlos do Carmo afirmou que o objectivo inicial do projecto foi “arrumar a casa no sentido de permitir que as novas gerações pudessem ter uma base de informação sólida sobre o Fado”. Bem encaminhada que está esta intenção com o trabalho desenvolvido no Museu do Fado, o fadista considera a grande ambição é agora “cativar o interesse por esta canção nas pessoas que a desconhecem ou Ainda que convicto na condecoração do Fado como Património da Humanidade, Carlos do Carmo insistiu em destacar a ideia de que este é um “trabalho de continuidade que não se esgota na candidatura e que vai continuar”. “As pessoas estão agora muito envolvidas e interessadas. O Fado, pela sua capacidade de se adaptar às diversas transformações sociais, tem tudo para continuar a evoluir pela melhor direcção”, confessou o fadista. Passada uma madrugada fatídica de desejos e ambições até à altura não correspondidos, o mais alto momento do fim-de-semana decorreu por volta das 12:30 deste domingo, dia 27 de Novembro. Perante a confirmação do Fado como Património Imaterial da Humanidade, as pessoas presentes na sala saltaram de contentamento numa celebração que teve direito a um brinde com champanhe e algumas lágrimas de felicidade. Assistindo em directo à divulgação da notícia no local, Catarina Vaz Pinto não conseguiu esconder a satisfação pela condecoração de uma “canção que é um dos traços identitários mais importantes de Portugal”. “Como resultado de uma candidatura que foi comum a todos os portugueses, este é um dia histórico para a cultura nacional”, acrescentou a Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa. Após a tão esperada confirmação, esta grande festa prolongou-se no Museu do Fado durante toda a tarde. Para além dos concertos que iam decorrendo na esplanada ao ar livre da Casa Mãe do Fado, os fadistas iam circulando pelos corredores e trocando impressões sobre esta grande conquista. No rescaldo do resultado da candidatura, Anita Guerreiro confessou que ainda antes de o conhecer já tinha a certeza de que Portugal iria conseguir a vitória. Habitué das casas de Fado, a fadista afirmou que “quem está habituado a trabalhar com estrangeiros sabe como esta canção é reconhecida lá fora”. “Mesmo sem perceberem as palavras, eles gostam. O timbre da guitarra portuguesa mexe com as pessoas”, acrescentou. Já Mafalda Arnauth, de uma geração bem mais recente de fadistas, preferiu alertar para a necessidade do Fado se manter fiel à “essência, simplicidade e musicalidade de emoções” que tanto o caracterizam. Sempre com um sorriso no rosto a jovem artista é da opinião de que este género musical tão tipicamente português “tem que manter a sua verdade, a Depois de ter estado aberto ao público desde as 10:00 de 26 de Novembro até às 18:00 do dia seguinte, o Museu do Fado volta hoje à sua normal rotina ainda com uma exposição de livre acesso do grande guitarreiro português Óscar Cardoso. |
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