José Pires Grancho, faleceu com 87 anos de idade, no dia 26 de Janeiro de 1998. Foi Maestro da Filarmónica Recreativa Cortense, desde que a mesma foi reconstituída (1977), até aos finais do ano de 1992, altura em que nomeou para seu sucessor o seu Sobrinho António Pão Alvo, que ainda hoje é o Maestro e Professor da escola de música da Filarmónica Recreativa Cortense.
O texto que se publica foi retirado de uma entrevista que o Maestro Pires deu a um suplemento do Jornal do Fundão em 10 de Setembro de 1993
Na altura em que decidiu abandonar o comando musical da Filarmónica Recreativa Cortense, argumentou que os anos lhe pesam, ao cabo de uma vida dedicada às Bandas do Exército, onde atingiu o posto de Sargento Ajudante – Sub-Chefe de Banda Militar.
Alistara-se a 28 de Outubro de 1930, no extinto Regimento de Infantaria 21, na Covilhã, e passou aos Caçadores 8 de Elvas, ao ser promovido a Furriel. Por troca voltou à Covilhã e casou em 1936 com D. Leopoldina Santos Grancho, também natural da Freguesia de Cortes do Meio.
Aprovado no concurso para 2º Sargento ingressa no Caçadores 6 de Castelo Branco. Entretanto relembra o Maestro, “as 35 Bandas Militares existentes ficam reduzidas a 8… Corria na altura, a versão de que eram precisos mais canhões e menos trombones…”.
Após três anos é transferido para a escola prática de Artilharia de Vendas Novas, como amanuense, pois como 2º Sargento Músico permaneceu 16 anos sem promoção, por falta de concursos. Dali saltou para a Banda Militar de Infantaria 16 de Évora, onde esteve mais 13 anos, em que teve ensejo de ser executante de feliscorneo.
Já noutro posto muda-se para a Banda Militar de Infantaria 12 de Coimbra, e mais tarde para Mafra, passando à reserva aos 60 de idade, o que lhe possibilitou dedicar-se à direcção de diversas Bandas, entre as quais as de Sor e Cercal, perto de Alfarelos; Seia, Góis e Arganil. As atenções votadas das Cortes surgiram, por ocasião de uns arranjos que teve de fazer na casa da Terra, que lhe tomou mais tempo por cá, visto que o Maestro optara por morar em Coimbra.
Restaurou a Banda, sem remuneração e conta-nos em que estado a veio encontrar: “Apenas encontrei alguns elementos já velhos – um a tocar pratos, outro o Bombo, Clarinete e mais nada… Mas em todas as Terras há pessoas com habilidade – o que não arranjam é tempo para se dedicarem a um instrumento. Tem de haver vocação, tempo disponível para se entregarem de alma e coração, e de quem lhe dê lições.”.
DIVINA ARTE
Para o Maestro Pires, a música é a “Divina Arte” e retransmitiu-nos as palavras de compositor, segundo o qual se trata de “uma Ciência deleitável, atractiva, nobre e profícua”.
Asseverou que foi uma Arte que sempre o seduziu, lhe facultou o ganha-pão e o enriqueceu de recordações… Revelou-nos, então, que também foi chefe do Orfeão Militar de Coimbra, composto por 96 elementos, que actuou muitas vezes em Lisboa, no Coliseu dos Recreios. Fez para cima de uma centena de partituras que deixou espalhadas pelas numerosas Bandas que orientou.
Lá nos desencantou a Marcha do Cortejo das Cortes, feita para um cortejo de oferendas destinadas à Igreja, e de que extraímos a parte que reza assim: “Vivemos aqui na Serra/ É simples a nossa Gente/ Sempre boa e benfazeja/ Vai alegre e Sorridente/ Ao desafio oferecer/ Levada por nobre ideal/ Um pouco do que nos resta/ À Igreja Paroquial”…
Hoje passado mais de um século sobre a sua fundação, a acção desempenhada pela Filarmónica Recreativa Cortense assume cada vez mais um papel fundamental na formação cívica e intelectual de todos quanto a compõem. Com um passado que fala por si, a Filarmónica Recreativa Cortense vem sendo ao longo de muitos anos a instituição de cultura por excelência da Freguesia de Cortes do Meio, por ela passaram ao longo destes anos, muitas gerações de músicos, alguns deles de eleição. Como todas as colectividades tem tido períodos áureos e outros menos bons, após interregno de alguns anos, foi a Filarmónica Recreativa Cortense, reestruturada e reactivada há cerca de 30 anos atrás, desde então para cá, soube a mesma honrar e dignificar até hoje a sua terra, e em todos os locais onde tem actuado, levou sempre a boa disposição dos nossos músicos e dirigentes, causando admiração pela nossa terra e tornando-se num autêntico e maior embaixador dos nossos usos e costumes, levando as nossas tradições a todos os locais por onde tem passado ao longo de todos estes anos. A nível interno a Filarmónica Recreativa Cortense tem tido um trabalho de inestimável valor, tem sido um verdadeiro harém cultural e prestado um serviço único na nossa comunidade, pois com o funcionamento permanente das escolas de música, tem dado grande riqueza cultural no ensino da musica, principalmente aos mais novos, preenchendo-lhes com grande vantagem os tempos de lazer e desviando-os das vicissitudes que a falta de ocupação dos tempos livres provoca, fortalecendo-lhes o carácter, mesmo no aspecto disciplinar, pelo que se espera todo o apoio da nossa Terra, para que continue a magnifica obra cultural levada a cabo pela Filarmónica Recreativa Cortense. Tem-se procedido ao longo do tempo, também ao apetrechamento da Filarmónica com novos instrumentos e fardamento, tivemos recentemente (1999) um projecto financiado no âmbito do LEADER II/ADERES, na ordem dos 7 mil contos, em que adquirimos um instrumental novo e um fardamento novo. Para tudo isto é necessário um grande empenho e carolice por parte dos dirigentes, que muitas vezes em detrimento da própria vida particular, se esforçam para levar em frente esta secular instituição. Neste momento temos entre mãos o concretizar do sonho de uma Vida - a nova sede social, uma obra de futuro, uma obra dos músicos e para os músicos, onde todos músicos e amigos da Banda se sintam em casa, e apetrechada do melhor e mais moderno que há.
Aproveitamos este meio para fazer um apelo a todas as entidades competentes, que dentro das suas possibilidades, apoiem a Filarmónica Recreativa Cortense na realização deste objectivo, pois com esta obra realizada, será ainda maior a importância cultural e o peso social que a instituição irá assumir.
A CLAVE : Sr. Maestro, numa visão mais geral, o que pensa das Filarmónicas?
MAESTRO: “No geral está bem no aspecto cultural e musical, representa a cultura de um povo.”
Quando foi que integrou a Filarmónica Cortense?
“Em 1983. Naquele tempo quase não havia escolas de música, aprendia-se com os restantes elementos. Fui tendo, com o decorrer do tempo, algumas aulas teóricas com o Maestro Pires Grancho.”
Qual o motivo que o levou a fazer parte da banda?
“Por motivos passionais, pois na altura, a minha namorada já integrava a banda.”
Quando ocorreu a transição de músico para Maestro? Porquê?
“Por volta de 1992, mas dois anos antes já fazia de contramestre. O maestro da altura, começou a motivar-me para isso e, assim, tirei um curso de regentes amadores pelo INATEL.”
Qual foi a sua primeira sensação quando se colocou pela primeira vez à frente dos músicos para reger a primeira peça?
“Confesso que tive algum receio que alguma coisa corresse mal, mas tive o apoio do antigo maestro.”
Haverá alguma forma de cativar novos músicos para a banda?
“Não estou a ver nenhuma forma. Cada um tem de sentir interesse pela música e muito bairrismo.”
Considera que existe alguma dificuldade em ensinar música?
“Não, nunca tive nenhuma dificuldade em ensinar música, há é por vezes, dificuldades em aprender.”
Tem projectos futuros em mente para a banda?
“Havendo mais elementos, poderia pensar-se em muitas coisas diferentes. Por exemplo, grupo de metais, trio, orquestra ligeira etc.”
Para concluir, qual o seu desejo para a banda?
“Espero que a banda Filarmónica Cortense ainda tenha muitos anos pela frente e, que nunca acabe.”
Desta feita refere-se à Festa da Aldeia de Santa Madalena - Concelho da Guarda, esta Festa já há cerca de 10 anos que é abrilhantada sempre pela Filarmónica Recreativa Cortense.